"alguma coisa acontece no meu coração"*

há quase 3 anos eu me mudei para São Paulo: a maior metrópole do Brasil! e da América do Sul!!! não foi propriamente uma escolha pela cidade, mas por viver ao lado do, hoje, meu marido - ou, pensando um pouco, até pode ter sido, já que escolher ficar ao lado dele implicava viver aqui. de qualquer forma, ela tornou-se, assim, a terceira cidade da minha vida, depois de Pará de Minas - município dos meus pais, onde passei minha infância e adolescência - e Belo Horizonte - onde cursei a faculdade e iniciei minha carreira profissional.

e as mudanças, também de endereço, em geral, forçam-nos a mudar, em alguma intensidade, nosso jeito de ser e vestir. foi, é certo, o que aconteceu comigo, aos 18 anos, quando migrei para a capital mineira e, mais recentemente, para a capital paulista, embora os processos tenham sido diferentes no que diz respeito "a cidade" e sua influência no meu comportamento.

dá para enxergar mineiridades nos
desfiles do verão 2010 das grifes
mineiras
Graça Ottoni e Coven?
(clique em cima da imagem para ampliá-la)

é que Belo Horizonte está a apenas 80 km de Pará de Minas e configura-se, ao meu ver, como uma grande "terra de mineiros", vindos de todas as partes do estado. isso possibilitou-me, naquele momento, o conhecimento de algumas diversidades, mas também o reconhecimento de muitos hábitos, jeitos e sabores.

Sampa, por sua vez, não me apresentou mineirices (claro!), mas, além disso, não me mostrou "uma" cultura, "um" povo, como eu estava acostumada. o que vi foi uma diversidade de culturas e uma grande quantidade de povos de todo o Brasil e do mundo inteiro - isto é, diferenças que de tão grandes eram sentidas, em alguns momentos, como "o avesso do avesso do avesso", produzindo o cada um do seu modo, do seu lado, sem diálogo, sem troca.

foi aqui que comecei a usar sapatos mais baixos, que me permitissem looongas caminhadas. investi em paletós 100% lã, que realmente aquecessem. redescobri minhas orelhas e voltei a usar brincos, que, antes, eu preteria aos colares, broches e pulseiras. deixei de lado o secador e passei a encontrar beleza nos cabelos mais ouriçados e até irregulares. aumentei meu interesse por peças simples, mas belas - seja no design, seja no material -, que me possibilitassem imendar "bem" o dia e a noite. e, por fim, fiquei mais à vontade para ousar nas "fantasias" - algumas roupas que faziam meu marido perguntar-me se eu estava vestida de alguma personagem.

redescobri, na capital paulista, a possibilidade de usar
sapatos baixos e de enfeitar as orelhas


ou seja, fui obrigada a me adaptar a extensão da cidade, as suas baixas temperaturas, a exigência de objetividade e percebo que perdi, em parte, um pouco da delicadeza, do romantismo e das minúcias da roupa mineira. é até curioso refletir sobre isso, de que as mudanças que me foram necessárias exprimiram-se na vestimenta. agora penso que se a mineira é mais devagar, o que a permite uma maior elaboração, uma grande atenção aos detalhes, a paulistana é apressada e sua presença tem que se fazer notar com rapidez, praticidade e ousadia.

os mineiros Victor Dzenk e Ronaldo Fraga mostram
um trabalho minucioso nas passarelas do verão 2010


em outras palavras, se o estilo pessoal de uma mineira se faz notar nas entrelinhas, já que ela tem consigo a identidade de um povo, o da paulistana é mais escancarado, mais direto, de uma "deselegância discreta", já que não há uma cultura que a identifique, mas uma grande diferença que resvala para a indiferença e exige que a comunicação de uma peculiaridade se faça de maneira veemente.

peças "de presença" adquiridas em São Paulo

e se hoje eu divido essas palavras com vocês é porque me sinto uma mineira, que "vem de um outro sonho feliz de cidade" e que não ficou isenta de sentir, no coração e na "estampa", os acontecimentos e os efeitos de um tempo já vivido em Sampa.

para suportar as baixas temperaturas da "terra da garoa",
comprei uma lã 100% na 25 de Março,
elaborei esse modelo e pedi a Maria,
minha costureira de Pará de Minas, para confeccionar

* algumas frases usadas aqui são de Caetano Veloso e estão na música "Sampa".


obs.: gostaria de sublinhar que o conteúdo desse post refere-se a UMA experiência PESSOAL e ATUAL, isto é, que parte dos elementos da minha realidade e que estão em constante transformação.

Comentários

  1. olá Raquel
    adorei ler seu post, tem tdo a ver com seu estilo e adoro ler sobre estilo
    ótima visão dos paulistanos e dos mineiros
    bjo

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  2. oi d novo!! rs
    q bom q vc achou q meu blog cresceu...
    estou tentando postar mais vezes
    seja sempre bem vinda
    bjuxx

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  3. olá cunhada!

    muito interessante! gostei!

    bjim!

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  4. Oieeeeee!

    Novidade: um Casaco da adidas branco! Lindoo!!
    E ainda Mp10 de 8gb, cachecol, blusas e muito mais!

    E ta rolando um sorteio de brinco + cachecol!

    Passa lá para conferir:

    http://brechojuci.blogspot.com/

    Beijos
    Ju e Cí

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  6. Oi, Raquel. Td bem? Aqui é a Mariana, esposa do Tiago, colega de trabalho do Danilo. Nos conhecemos no sábado. Adorei seu texto, me identifiquei muito com ele. Não que eu já tenha tido uma grande vivência de moda mineira. Eu gosto da moda de Minas, e acho que entendo essa coisa do detalhe X o todo (em comparação com a moda paulista), do romântico X o urbano, do elaborado X o prático... Como minha mãe mora em Minas, tb sempre tenho a oportunidade de observar a maneira de as mineiras se vestirem. Mas antes de ler seu texto eu nunca tinha parado pra pensar no que esses 6 anos em SP mudaram o meu jeito de vestir. Com certeza, muita coisa. Uma delas é a roupa pro dia inteiro - há alguns anos não existe pra mim roupa de sair e roupa de trabalhar, como existia antes de eu vir pra SP. Claro que isso se deve ao tamanho de SP - tudo é muito longe, raramente temos tempo de passar em casa antes de ir pro bar ou pra balada. E na hora de comprar roupa, certamente isso conta. Outra coisa, provavelmente pela falta de tempo por conta da correria de SP, é o o que eu poderia chamar de "acessório de destaque", quase que um item indispensável na composição do look. Como nunca dá tempo de elaborar muito a roupa, tenho muitas peças beasicas, mas gosto de colocar um acessório de destaque, como um cachecol, um lenço, um cinto, um arco, um tênis diferente... Nossa, falei demais. Muito legal seu blog, como o tempo vou tentar ler os posts anteriores. Um beijo! Mariana

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  7. oi Mariana! que bom tê-la por aqui e contar com seu depoimento, que traz a sua experiência e acrescenta outras palavras. obrigada!
    beijos!

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  8. Olá Raquel!
    Gostei muito de ler o q escreveu e me identifiquei muito com tudo isso. Também sou de Pará de Minas (na verdade, de um distrito de se chama Tavares, vc nao deve conhecer) e moro atualmente em BH. Estive em SP no fim do ano passado e inicio desse ano e isso td q vc disse faz mto sentido. Já senti muitas essas mudancas em mim tb, tanto qnto fui estudar no fernando otavio, quanto, e principalmente, agora q moro em BH. Aprendi a costurar e essa experiencia (e amor!) por tecidos tb faz parte de mim. Amo moda e acho muito interessante a forma como nossas mudancas de modo de vida e de atitudes se refletem no que vestimos!Adorei!

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  9. oi Bianca! certamente eu já estive em Tavares, embora eu não me lembre direito. fiquei feliz com a visita de uma conterrânea! prazer em conhecê-la!
    beijos!

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  10. post ma-ra-vi-lho-so. quanta reflexão acertada, que coisa linda de se ler. inspirador.

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  11. Que ótimo seu texto!
    Eu, paulistana, amo minha e cidade fico feliz em ver pessoas que vêm de for a entendem o que é estar em São Paulo

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  12. olá!!!
    como eu adoro o q vc escreve... acho tdo um sonho resolvi t dar um selinho
    v c aparece
    bjuxx

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  13. amei o postagem!
    Clara (http://clarabrocca.blogspot.com/)

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